Resumos

CONFERÊNCIA:
 

Um Exemplo de Geografia Linguística: O Atlas Linguístico-Etnográfico dos Açores (ALEAç)

João Saramago
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

Numa primeira parte, será feita uma muito breve história da Geografia Linguística, bem como uma sumária apresentação dos diferentes tipos de atlas que têm aparecido até ao momento. A segunda parte abordará toda a metodologia que se encontra subjacente à elaboração de um atlas linguístico. Essa metodologia será exemplificada com o recurso ao ALEAç, um atlas que cobre uma região muito específica de Portugal: o arquipélago dos Açores. Este atlas linguístico, que se encontra disponível na internet, integra-se num projecto mais vasto, oAtlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza, em elaboração no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Nele trabalham três investigadores: Gabriela Vitorino, Luísa Segura e eu próprio. Não se trata, portanto, de um atlas regional que, para sê-lo, teria que abordar a realidade linguística e etnográfica açorianas de um modo mais aprofundado. Foi, sobretudo, devido à sua descontinuidade geográfica, relativamente ao Continente e à sua especificidade linguística que se perspectivou uma publicação independente do material recolhido em 17 pontos de inquérito, distribuídos pelas nove ilhas do arquipélago. Este atlas tem 1174 mapas linguísticos, dos quais 1104 são sobretudo lexicais e 70 são de índole morfonológica. Os mapas abordam os seguintes conteúdos semânticos: 1) a criação de gado; 2) a vinha e o vinho; 3) os trabalhos do linho e da lã; 4) dos cereais ao pão; 5) as árvores e o seu aproveitamento; 6) as árvores de fruto; 7) os produtos da horta; 8) as ervas, as flores e os arbustos; 9) a agricultura e as alfaias agrícolas; 10) ofícios e profissões; 11) os animais domésticos e de capoeira; 12) os equídeos e os arreios; 13) a fauna selvagem; e 14) a fauna e a flora marinhas. Alguns destes mapas são completados com desenhos explicativos.

 

SIMPÓSIO:

Pesquisas Geolinguísticas e Lexicais:

O Atlas Linguístico do Brasil a Caminho da Publicação
Vanderci de Andrade Aguilera (UEL/CNPq)

O ano do cinquentenário do Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB), primeiro atlas estadual a vir à luz depois de reiteradas propostas de elaboração de um atlas linguístico nacional (NASCENTES, 1923; SILVA NETO, 1957; CUNHA, entre outros), marca outro evento: a conclusão dos primeiros volumes do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) com publicação prevista para o início de 2014. A comunicação que proponho nesta mesa redonda diz respeito aos passos mais importantes dados pela equipe do ALiB desde o lançamento do projeto, na Universidade Federal da Bahia, em novembro de 1996, até nossos dias. Para isso, trago à discussão alguns aspectos teórico-metodológicos adotados, tais como: a opção por um atlas pluridimensional, embora o enfoque maior seja o diatópico; a composição da rede de pontos; o perfil dos informantes; a construção do instrumento de coleta de dados; a preparação e a atuação da equipe de investigadores de campo e de transcritores; a atuação das equipes regionais e o apoio financeiro recebido. Historiando os 17 anos de atividades de um projeto geolinguístico desta natureza, presto minha homenagem aos dialetólogos pioneiros que acreditaram nesta proposta e aos atuais que não mediram esforços para a consecução deste desiderato.

 

Um Acervo Lexical do Universo Galego e Português
Silvia Figueiredo Brandão – UFRJ/CNPq

Tem-se por objetivo divulgar o projeto Tesouro do léxico patrimonial galego e português, que reúne, em um único banco de dados disponível na internet, materiais lexicográficos provenientes de distintas fontes galegas, portuguesas e brasileiras, muitos deles ainda inéditos e, por esse motivo, de difícil acesso à comunidade científica.
O projeto, cuja coordenação geral vincula-se ao Instituto da Língua Galega da Universidade de Santiago de Compostela, conta, ainda, com a participação de pesquisadores de diversas universidades brasileiras, das Universidades de Lisboa e de Coimbra.
Toda a informação é organizada por lemas, havendo a possibilidade não só de acessar as suas diferentes variantes (fônicas, morfológicas), mas também obter os dados referentes às fontes de que provêm: autor, título, data, página; formas, categorias, definições, localização, etnografia, imagens, usos, fraseologia, informações linguísticas. No site do projeto, é possível obter a cartografia automática das variantes e dos lemas selecionados (Galiza, Portugal, Brasil), para conhecer a sua distribuição geográfica.

 

Os Atlas Semântico-Lexicais Paulistas:
Retrato do Léxico do Estado de  São Paulo do Ponto de Vista Geolinguístico

Irenilde Pereira dos Santos - USP-GPDG/USP

Há exatos quarenta anos, um grupo de pesquisadores paulistas reunidos na mesa-redonda “Por que não se faz um Atlas Linguístico do Estado de São Paulo”, realizada no âmbito do X Seminário do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, dá os primeiros passos para a elaboração do Atlas Linguístico do Estado de São Paulo – ALESP. O assunto volta à baila diversas vezes em congressos subsequentes até que, em 1983, após várias testagens, Pedro Caruso, docente da UNESP/Assis e membro da comissão criada no X Seminário do GEL para examinar o tema, publica o Questionário do Atlas Linguístico do Estado de São Paulo. Embora o ALESP não tenha sido publicado, seu questionário juntamente com o texto Atlas Linguístico do Estado de São Paulo: histórico, de Caruso, constituem documentos imprescindíveis para o conhecimento dos procedimentos teórico-metodológicos da Geolinguística, em que não poucos pesquisadores têm colhido subsídios para a elaboração de atlas linguísticos e estudos geolinguísticos.  Em comemoração ao quarentenário da proposta feita na mesa-redonda do GEL, proponho, neste trabalho, apresentar e discutir os pontos principais que caracterizam os atlas semântico-lexicais paulistas que enfocam o léxico utilizado em uma parte significativa do Estado de São Paulo. A partir de exemplos extraídos do Atlas semântico-lexical do Grande ABC, de Cristianini (2007); do Atlas semântico-lexical de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, de Encarnação (2010); e do Atlas semântico-lexical da Região Norte do Alto Tietê (ReNAT), de Soares (2012), busca mostrar que os itens lexicais que integram um atlas semântico-lexical fazem parte da atividade linguística produtora de sentidos que se desenvolve entre sujeitos, numa rede de pontos, em relação a um dado tempo histórico.

 

História e Variedade do Portuguès na Região do Médio Tietê: Procedimentos Metodológicos de Coleta de Dados
Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida (USP, FAPESP, CNPq)

O objetivo é apresentar os procedimentos metodológicos que vêm sendo empregados na coleta de dados orais no projetoHistória e variedade do português paulista às margens do Anhembi, na região do Médio Tietê (SP) e, consequentemente, noutros lócus de pesquisas relacionadas ao referido projeto que tem utilizado como base o aporte teórico-metodológico da geolinguística e da sociolinguística variacionista. A finalidade do projeto é (i) investigar a dinâmica do dialeto no seio das comunidades atuais, tendo em vista as transformações por que tem passado a região; (ii) investigar a linguagem utilizada na auto identificação das populações analisadas; (iii) testar/identificar em hipotéticos falantes ideais do dialeto caipira, descrito por Amaral (1920), o grau de manutenção e de mudança ou inovação a que tende a variedade linguística por eles falada. Parte-se, para tanto, da hipótese que no decorrer de mais de cinco séculos de língua portuguesa no Brasil, as condições socioculturais, principalmente em regiões interioranas, foram mais propícias à manutenção do que à inovação. Conforme Cunha (1986), isso é “de uma evidência que dispensa maior comprovação”, porque tendo vivido mais de trezentos anos sem contato duradouro com outros povos, sem imprensa, sem núcleos culturais de importância, e com poucas escolas, o Brasil foi acumulando etapas que, segundo ele, levam aos “estados linguísticos paralisantes”. E mesmo considerando o contrário, difícil seria atestar, segundo Castro (2012), que, por exemplo, traços fonéticos presentes no português antes do contado com as línguas indígenas tropicais não tenham atravessado o Atlântico “na boca de beirões, transmontanos e minhotos”, podendo depois, a depender das condições socioculturais e históricas, ocorrer apagamento ou manutenção. Propomos, assim, dar continuidade à discussão sobre a metodologia de coleta de dados que permitam testar esse grau de inclinação do caráter conservador versusinovador do português brasileiro.

 

COMUNICAÇÕES ORAIS:

O Atlas semântico-lexical do Estado de Goiás: princípios teórico-metodológicos
AUGUSTO, Vera Lúcia D. S.

A presente comunicação tem como objetivo apresentar os princípios teórico-metodológicos da tese de doutorado realizada na Universidade de São Paulo de 2008 a 2012, denominada Atlas Semântico-Lexical do Estado de Goiás. A tese teve como objetivo principal descrever a norma semântico-lexical presente em nove municípios do Estado de Goiás. Sabemos que o Brasil apresenta um vasto e rico campo não apenas para a pesquisa sociolinguística como também para a geolinguística e, para que se possa obter o conhecimento do português falado, vários trabalhos vêm sendo desenvolvidos voltados para a Sociolinguística e para a Geolinguística. Nesses trabalhos, registra-se um número relativamente elevado de formas linguísticas. É extremamente importante mapear e retratar, por meio de um contínuo observatório linguístico, a identidade linguística e cultural das comunidades dos estados brasileiros. Como o Estado de Goiás, localizado na região Centro-Oeste do País, apresenta uma configuração geo-histórica e cultural específica, partiu-se da hipótese de que ele compreende áreas linguísticas com peculiaridades próprias. Com base no referencial teórico-metodológico da Geolinguística contemporânea, aplicou-se o Questionário Semântico-Lexical do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), versão 2001, a trinta e seis sujeitos-entrevistados subdivididos em duas faixas etárias – 18 a 30 e 50 a 65 anos de idade, em dois gêneros – masculino e feminino. Um banco de dados semântico-lexical foi elaborado com as respostas obtidas nas entrevistas. Posteriormente, os dados foram descritos e documentados em 202 cartogramas linguísticos, com a finalidade de se apresentar os resultados da variedade semântico-lexical do falar dos pontos pesquisados. Dada a natureza do trabalho, adotou-se, também, o referencial teórico da Lexicologia presente em Barbosa (1979, 1989) e a noção de norma proposta por Coseriu (1954, 1973, 1982). Para o tratamento quantitativo dos dados, sobretudo com relação às noções de frequência, recorreu-se a Muller (1968). Chegou-se a resultados significativos como 14 itens lexicais com 100% de frequência relativa; e 100 itens lexicais com frequência igual ou superior a 50% e distribuição regular. Esses resultados apontam não apenas a norma semântico-lexical dos pontos pesquisados, como também constituem um retrato parcial do falar goiano.

 

Aspectos Semântico-Lexicais da Língua Portuguesa falada por universitários de Maputo – Moçambique
BERGAMNI, Claudia

Este estudo tem por objetivo descrever o léxico da Língua Portuguesa falada por universitários de Maputo, Moçambique. Sob um viés sincrônico, o método de coleta de dados agrega pressupostos teóricos da Geolinguística e da Sociolinguística variacionista, cujo produto é um Questionário Semântico-Lexical – QSL, de modelo onomasiológico, dividido por campos semânticos. As bases teóricas da Geolinguística são fornecidas por Brandão (1991), e as da Sociolinguística são embasadas em Tarallo (2004). O aparato cultural e histórico de Maputo é delimitado pelas considerações de Firmino (2006), Gonçalves (1995), e Mondlane (1995). O público alvo para aplicação do inquérito é constituído de sujeitos que estejam cursando ou tenham concluído o ensino superior, identificados como público universitário, com, no mínimo, 10 anos de vida escolar, divididos equitativamente em homens e mulheres de três faixas etárias (18 a 29 anos; 30 a 44 anos; 45 anos ou mais). A partir desta pesquisa será possível identificar peculiaridades intrínsecas ao processo de formação do léxico dos universitários de Maputo, contribuindo, assim, para a descrição e estudo do português falado em Moçambique.

 

Estudo do vocabulário do cururu em Piracicaba
BRITO, Mariana S.

Esta comunicação tem como objetivo geral apresentar os resultados do estudo do vocabulário do Cururu na cidade de Piracicaba, propondo uma discussão das influências e contribuições do léxico dessa manifestação folclórica dentro do universo sociocultural caipira da região do Médio Tietê. Para elaboração dessa pesquisa foram utilizados material oral, dicionários de língua portuguesa e bibliografia relacionada. Com base no referencial teórico metodológico da sociolinguística laboviana, fez-se a pesquisa de campo para coleta de conversas informais; e, da geolinguística, para elaboração e aplicação do questionário do campo semântico-lexical do Cururu, com trinta sujeitos-entrevistados, subdivididos em cururueiros e não cururueiros, considerando as faixas etárias – 18 a 30 e 50 em diante- e os diferentes sexos.   Os objetivos específicos deste estudo foram: i) definir um glossário a partir do vocabulário Cururu, selecionado por meio de bibliografia e pesquisa de campo; e, ii) desenvolver uma análise diacrônica do conteúdo desse glossário, comparando as acepções das lexias listadas às encontradas em dicionários dos séculos XVIII, XIX, XX, XXI. O exame desses dados foi feito à luz de estudos dialetológicos, lexicográficos, lexicológicos e sociolinguísticos. Os resultados dessa pesquisa além de permitir a análise do grau de reconhecimento e uso dos 48 itens lexicais, também expõem uma mostra da tradição atual do Cururu em Piracicaba, região que tem em seu vocabulário um reflexo da ação natural e dinâmica da própria língua, sendo possível suscitar uma discussão sobre o grau de manutenção, variação e mudança em curso dos elementos que compõe esse vocabulário.

 

Seio, teta ou mama? – a doxa social na escolha do léxico
CAVALCANTE, Marcelo Cesar

A escolha do léxico não é neutra ou inocente, mas sempre apresenta um propósito argumentativo. O próprio ato de escolher é argumentativo e reflete a ideologia, as crenças, as opiniões e as representações sociais e culturais do emissor, quer seja um indivíduo ou uma instituição. Desta forma, a intencionalidade na escolha do léxico está ligada a fatores externos ao sistema linguístico. Pode-se afirmar que a escolha do léxico faz parte de uma abordagem discursiva na medida em que se leva em consideração o objetivo da comunicação, os sujeitos inseridos em um contexto, em uma história, em uma sociedade, em um sistema de crenças, enfim. A língua é prática social em que os sujeitos interagem para a comunicação que envolve a influência e ação sobre outrem. Esta comunicação vai analisar as respostas dos sujeitos-entrevistados do Atlas Semântico-Lexical da Região Norte do Alto Tietê (ReNAT),  de Soares (2012). As respostas dos sujeitos-entrevistados refletem e refratam sua posição sócio-ideológica e suas crenças, valores e emoções, com vistas a afirmar sua identidade na comunidade de fala.

 

Sociogeolinguística: reflexões sobre uma nova perspectiva teórica
CRISTIANINI, Adriana Cristina

Este trabalho objetiva propor uma reflexão sobre os fundamentos e as contribuições de uma nova perspectiva teórica, a Sociogeolinguística, que tem sido discutida, há alguns anos, pelo Grupo de Pesquisa em Dialetologia e Geolinguística, da Universidade de São Paulo – GPDG/USP.  As tendências científicas, desde a metade do século passado, evidenciam a necessidade de as pesquisas, especialmente na área das humanidades, serem de cunho interdisciplinar, uma vez que não se deve considerar o homem como um indivíduo isoladamente, mas também levar em conta o contexto e as relações nele estabelecidas. Diante dessa condição, o GPDG/USP passou a utilizar o termo Sociogeolinguística para nomear os estudos dialetais que atentam tanto a variável diatópica como para as variáveis sociais e, diante disso, as variáveis culturais, psicológicas, espirituais, entre outras. Para a Sociogeolinguística, é essencial ressaltar que os resultados, coletados por meio da aplicação do questionário para a elaboração do atlas, são registros da interação que ocorre no momento da pesquisa. Os sentidos se dão nessa interação entre sujeitos que estão situados num determinado    tempo, num dado espaço, e pertencem a um grupo. Esses sujeitos carregam a ideologia da comunidade na qual estão inseridos e trazem consigo crenças, costumes, valores culturais e sociais. O termo Sociogeolinguística foi cunhado tomando-se a mesma regra de formação de palavras que ocorre em Geolinguística, em que o elemento antepositivo acrescentado ao substantivo “linguística” amplia/modifica o significado do nome. Ao acrescentarmos o antepositivo determinador soci(o)- ao substantivo, já cristalizado, Geolinguística, ampliamos/modificamos o significado deste, pois, para o estudo sociogeolinguístico, mantemos os preceitos da Geolinguística, mas analisamos também as relações socioculturais que influenciam o  comportamento geolinguístico dos sujeitos.

 

Atlas semântico-lexical da região paulista do Médio Tietê
FIGUEIREDO JR., Selmo. Ribeiro

A comunicação de que trata este resumo apresentará um projeto de pesquisa que pretende documentar e descrever, de maneira quantitativa e qualitativa, os aspectos semântico-lexicais do português falado (PF) no Médio Tietê, região formada por Araçariguama, Capivari, Itu, Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus, Porto Feliz, Santana de Parnaíba, São Roque, Sorocaba e Tietê, municípios paulistas cujo início de urbanização remonta ao século XVI. Trata-se de um estudo de doutoramento a se iniciar em 2014 no âmbito da USP, no programa Filologia e Língua Portuguesa, pela perspectiva teórico-metodológica da geolinguística contemporânea, com o objetivo de elaborar o atlas semântico-lexical da região referida, do qual decorrerá o conhecimento da norma semântico-lexical — pela identificação, feita a partir dos corpora, dos itens lexicais de distribuição regular (com ocorrência em toda a rede de pontos de inquérito) com alta frequência relativa (≥ 50%) — do PF objeto da pesquisa, que assim ainda terá sua memória linguística parcialmente registrada. O método adotado de recolha de dados será o Questionário Semântico-Lexical (QSL versão 2001) do Projeto ALiB, a ser aplicado em pontos de inquérito distribuídos pela região de abrangência da pesquisa, um ponto em cada cidade, que contará com  quatro informantes, dois homens e duas mulheres, divididos equitativamente em duas faixas etárias (18 a 30 e 50 a 65), totalizando quarenta sujeitos- entrevistados. Os dados assim obtidos serão tratados e representados em tabelas, histogramas e cartogramas. Dessa forma, visa-se a contribuir com os esforços dos pesquisadores que buscam inventariar e descrever as diversas comunidades de fala do Brasil, com vistas a estabelecer o retrato geral da realidade linguística do país.

 

Samba paulista: caiu de pé é sambador, sambeiro ou sambista?
FRUGIUELEMario Santin

O presente trabalho tem como objetivo central investigar a produção de sentidos e os registros da memória coletiva provenientes da escolha de duas unidades lexicais (sambeiro e sambador) em oposição à forma sambista. O corpus da pesquisa é constituído fundamentalmente de entrevistas livres realizadas com praticantes de uma manifestação cultural conhecida como Samba Rural Paulista (ANDRADE,1937), em que é possível constatar a preferência pelo uso das unidades sambeiro e sambador. Para procedermos à análise dos dados coletados, utilizamos como pressupostos teóricos recortes feitos nas áreas da Dialetologia, Geolinguística e Análise do Discurso de linha francesa, além de outros campos como a Terminologia, a Sociolinguística, e a Lexicologia. Os resultados deste trabalho expõem uma distinção significativa entre a escolha lexical feita por participantes de modalidades específicas de samba,sendo possível estabelecer oposições entre o samba atualmente desenvolvido em todo Brasil, altamente influenciado pelo ritmo procedente do Rio de Janeiro, à secular prática dos sambadores e sambeiros paulistas de outrora. Outrossim, o presente estudo revela, por meio da prática discursiva, a memória coletiva na qual estão inscritos os locutores, permitindo um entendimento mais adequado das diferenças e limites atuantes entre os tipos de samba citados.

 

Estudos lexicais sobre o pronome você: realizações e tendências
GONÇALVES, Clézio Roberto

O estudo das formas e convenções de tratamento tem se mostrado de grande importância para o conhecimento do Português, tanto em Portugal quanto no Brasil. Ao se contemplarem tais formas, descobre-se mais sobre o costume, a cultura e o contexto sócio-econômico de uma comunidade, pois as formas de tratamento dizem respeito à relação entre duas pessoas, na qual o grau de intimidade ou deferência pode revelar o comportamento dessa população, de acordo com as suas delimitações hierárquicas. Sendo assim, os tratamentos, pronominais e nominais, representam, na língua, a relação interpessoal e as maneiras pelas quais os indivíduos se dirigem uns aos outros. Faz-se uma revisão da literatura linguística sobre o objeto em estudo, evidenciando as diferentes formas de abordagem. Procurou-se enriquecer este trabalho com as contribuições de vários outros pesquisadores, portugueses e brasileiros, em sua maioria, que vêm contribuindo com a literatura linguística sobre os estudos da forma pronominal vossa mercê. Esta pesquisa demonstra que houve um garimpo minucioso e bem selecionado de trabalhos, em bibliotecas nacionais e estrangeiras, para que se pudesse apresentar, aqui, um número vastíssimo de abordagens distintas, mas relacionadas ao tema desta pesquisa, com o objetivo de evidenciar que é um tema que vem sendo, ao longo dos anos, investigado, tanto em Portugal como no Brasil. Este trabalho tenta estabelecer os fatos do passado, à semelhança do que acontece com o fenômeno no presente, ou seja, descrever o fenômeno linguístico da constituição e da formação histórica dos pronomes vossa mercê, você, ocê e cê.

 

O município de Ubatuba (SP): o léxico em questão
GONÇALVES, Clézio Roberto e DUARTE, Larissa de Sousa

Não se pode negar que existe uma grande influência da língua sobre a visão do mundo daqueles que a falam. Da mesma forma, não se pode negar o contrário, ou seja, a influência do meio físico e do contexto cultural sobre a língua. A partir daí, este estudo tem como objetivo geral: elaborar um estudo lexical de caráter descritivo da fala do município de Ubatuba (SP). Já se constatou com esta pesquisa que, desde a origem do município de Ubatuba, alguns itens nos direcionam a uma reflexão sobre quais fatores teriam influenciado na concretização da norma linguística que se apresenta na fala atual dos habitantes. A metodologia deste estudo está fundamentada nos pressupostos da Geolinguística, método da Dialetologia. Esse método permite a reconstituição da história de palavras, de suas vias de difusão, de flexões, de agrupamentos sintáticos e de antigas camadas da língua, segundo a repartição dos tipos geográficos atuais. Esse resgate torna-se possível por meio da aplicação de um questionário previamente elaborado a determinados sujeitos e pela elaboração de cartogramas, onde as respostas são registradas e pelas quais poderemos, então, obter o mapeamento das variantes linguísticas, segundo as orientações do Projeto do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Além do referencial teórico-metodológico da Geolinguística, a partir das obras de AMARAL (1976), COSERIU (1979, 1982), NASCENTES (1958), complementou-see ste estudo com as noções de Dialetologia em AGUILERA (1998,(2005),CARDOSO (1996), CRISTIANINI (2007) e SANTOS (1999).

 

Variações linguísticas em torno de arco-íris: por onde passa a escolha lexical?
GUIMARÃES, Selma S. S.

A riqueza da variação linguística em torno de arco-íris, produzindo novos efeitos de sentido, se constitui no registro da memória discursiva da qual os sujeitos se apropriam em suas interações e as escolhas lexicais se inscrevem em diferentes discursos que espelham o lugar sócio-histórico de onde falam os sujeitos. Nesse sentido, o presente estudo tem o objetivo de depreender e identificar a produção de sentidos e os registros da memória discursiva subjacente aos elementos textuais-discursivos presentes nas respostas dos sujeitos à questão “Depois da chuva, como se chama aquele negócio colorido que se forma no céu?”. A análise, sustentada pelos pressupostos da Análise do Discurso de linha francesa, considerou os itens lexicais presentes nas respostas dos sujeitos-entrevistados do Atlas Linguístico do Paraná – ALPR, bem como as notas e observações da autora do Atlas. Consideraram-se também, para a análise, as respostas encontradas no Inquérito Linguístico Boléo - ILB, isto é, os itens lexicais, os versos e as  cantilenas referentes a arco-íris. A análise do objeto discursivo permite observar o entrecruzamento de diferentes discursos e possibilita afirmar que as respostas apontadas corroboram a noção de um sujeito discursivo que integra a história e revela em sua voz aspectos sociais e ideológicos impregnados nas palavras, o que sustenta e torna válida sua escolha lexical. É possível observar que, entre outros discursos presentes nas respostas, o discurso religioso, apesar de se tratar de duas localidades diferentes, Paraná e Portugal, determina a escolha lexical dos sujeitos e se atualiza em sua voz. É a memória discursiva determinando o dizer e o “não-dito” anuncia-se no que é dito. A fala dos sujeitos, perpassada por sentimentos, crendices, superstições ou costumes, revela os vários discursos de que participam e o espaço social no qual eles se inscrevem.

 

Estudo da variação no emprego das preposições “em” e “de” diante de topônimos relacionados à memória da ferrovia brasileira
PIRES, Luis R. Rodrigo Pires

O trabalho se propõe a investigar a variação no emprego das preposições “em” e “de” diante de topônimos a partir da hipótese de Van Langendonck (2007), a qual associa o uso da preposição contraída ou não contraída com artigo ao caráter “isolativo” ou “não isolativo” dos topônimos que a sucede. Para tanto, serão verificadas as ocorrências de topônimos precedidos das preposições “em” e “de” nas elocuções dos moradores do município de Ouro Preto (MG), que atuaram como funcionários da rede ferroviária brasileira durante o apogeu de suas atividades. Tais ocorrências serão quantificadas e analisadas com vistas a comprovar a referida hipótese. Será adotado como referencial teórico-metodológico o modelo toponímico de Van Langendonck (2007) e Dick (1990) associado ao modelo sociolinguístico quantitativo laboviano. O corpus analisado integra o acervo de História Oral do Programa de Educação Patrimonial Trem da Vale, que tem como objetivo o registro de memórias a partir de temas relacionados às experiências vivenciadas pelos entrevistados. Para além da análise pretendida, o trabalho visa, também, a apresentar um levantamento toponímico relacionado à história da ferrovia e, consequentemente, à história de vida dos seus funcionários. Dessa forma reafirma-se, por um lado, a importância dos estudos toponímicos no resgate e valorização da memória cultural e, por outro, a preponderância dos registros orais enquanto instrumentos de preservação da memória comunicativa.

 

A expressão do modo subjuntivo no Atlas Linguístico do Maranhão – AliMA
SANTOS, Wendel Silva dos.

Aliando os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (cf. LABOV(1966;1972; 2001) e da Dialetologia/Geolinguística (cf. ROSSI,1963; AGUILERA, 1994; SANTOS, 2005, 2012), este trabalho tem por objetivo investigar a expressão do modo subjuntivo no Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA), mais especificamente os dados coletados na capital, São Luís. Para tanto, este estudo desenvolve-se por meio da seguinte metodologia: i) pesquisa bibliográfica no âmbito da Linguística, com ênfase em Sociolinguística Variacionista, Dialetologia e Geolinguística; ii) delimitação e seleção do corpus, com base nos inquéritos pertencentes ao Banco de Dados do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA-UFMA), realizados na cidade de São Luís, uma das oito localidades integrantes da rede de pontos do atlas; iii) distribuição dos dados, análise da frequência e verificação dos percentuais de ocorrências do fenômeno em estudo. Serão analisados os dados de fala de oito sujeitos, estratificados igualmente em sexo/gênero, duas faixas etárias – faixa I, de 18 a 30 anos, e faixa II, de 50 a 65 anos; quanto à escolaridade, foram considerados sujeitos alfabetizados e que cursaram, no máximo, até a 4a série do Ensino Fundamental, além de sujeitos com o Nível Superior de Escolaridade. A análise em tela mostra uma distribuição relativamente significativa do objeto de estudo em questão, com leve favorecimento da forma do subjuntivo, e dar a conhecer a variedade do português falado naquela cidade.

 

Edição de Documentos e Estudo Lexicográfico do Vocabulário do Charque na Região Sul do Brasil
SCHREINER, Cátia

Esta comunicação tem como objetivo geral apresentar um trabalho sobre o léxico que envolve o vocabulário charque no sul do Brasil, propondo uma discussão sobre as influências e contribuições nesse e deste léxico na formação e expansão da variedade do português brasileiro. Para a realização deste estudo foram utilizados documentos manuscritos e impressos, antigos e modernos, material oral, dicionários de Língua Portuguesa, assim como atlas linguísticos. A metodologia empregada baseou-se na edição facsimilar e/ou semidiplomática dos documentos escritos que serviram de base para a composição do léxico, como também para o estudo sócio-histórico e cultural. Os atlas linguísticos e sua metodologia serviram de base à pesquisa de campo para a análise dos usos da lexia charque nas comunidades investigadas. A partir da listagem do léxico do vocabuláriocharque, colhido dos documentos, dos atlas e da pesquisa de campo, a comunicação objetiva apresentar o glossário que foi composto no trabalho, assim como também os resultados obtidos nas pesquisas.

 

A variação no falar dos sujeitos da Grande São Paulo: enfoque semântico-lexical
SOARES, Rita de Cássia da Silva

Nesta comunicação, apresentar-se-ão alguns itens lexicais constantes das respostas dadas ao questionário semântico-lexical utilizado para a elaboração do Atlas Semântico-Lexical da Região Norte do Alto Tietê (ReNAT) - São Paulo. O propósito é mostrar, na verdade, exemplificar, a variedade lexical presente na fala dos sujeitos da região da Grande São Paulo. Esse atlas foi desenvolvido em cidades que, geograficamente, estão no entorno do município de São Paulo. A coleta de informações para o atlas foi feita in loco, tendo o pesquisador ouvido e registrado as respostas dos sujeitos, as quais denotam a realidade linguística dos sujeitos-entrevistados de cinco municípios paulistas, a saber: Guarulhos, Arujá, Santa Isabel, Mairiporã e Nazaré Paulista.

 

Contato de línguas sob a perspectiva sociogeolinguística: Estudo do falar dos nipo-brasileiros do Distrito Federal
TAKANO, Yuko

Neste estudo pretendemos mostrar o falar dos nipo-brasileiros do Distrito Federal. Buscamos como fundamentação teórica a orientação da Geolinguística e da Sociolinguística sob a perspectiva semântico-lexical, para registrar e descrever essa variação linguística. Apresentamos o resultado dos corporautilizados em nossa pesquisa em cinco regiões administrativas do Distrito Federal: Brasília; Brazlândia; Núcleo Bandeirante; Plano Piloto; e Taguatinga. Consideramos as referências geográficas e históricas da região em que a comunidade de estudo se encontra, visto que esses aspectos podem justificar, em parte, as ocorrências linguísticas do nosso objeto de estudo. Os nipo-brasileiros do Brasil, vivendo há mais de um século em solo brasileiro, ao longo de suas vidas, têm seu repertório linguístico modificado. Paulatinamente, os valores culturais e linguísticos do país de origem, intactos no passado devido ao isolamento, vão se transformando e, assim, criando um universo sócio-histórico-cultural próprio. Os nipo-brasileiros vão perdendo um dos traços étnicos de origem e absorvendo elementos da outra língua, criando, nesse contato, o falar que denominamos de “variedade nipo-brasileira”. Analisamos as respostas à luz do fenômeno do contato de línguas, cujo contexto contempla a mudança de código e o empréstimo lexical. A pesquisa ancora-se nos pressupostos acima citados, ressaltando os estudos de Amaral (1955), Alvar (1979), Coseriu (1982), Grosjean (1982), Pottier (1983), Mase (1986), Chambers e Trudgill (1984), Thomason e Kaufman (1991), Brandão (1996), Garcez e Ribeiro (1998), Santos (2005), entre outros.